quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Tempo de Esperança



Estamos entrando no Tempo do Advento. A quadra litúrgica onde celebramos a expectativa da vinda de Jesus Cristo. É um tempo de renovar as esperanças, uma vez que, a vinda do Messias, esperada por tanto tempo, se concretizou, assim somos aqueles que vivemos a realidade dessa promessa.
Uma das coisas que alegra meu coração, me motiva e me ajuda a estar sempre focado no propósito de Deus, é a experiência vivida pelo povo de Deus na História. Ao vivermos esse período, devemos ter em mente isso: Deus nunca falha em suas promessas. Ele vem, se manifesta e age no tempo certo e, como diz a Sabedoria: “Para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu” (Ec 3:1).
 A Esperança do Advento alimenta as nossas vidas pessoais. A nossa fé íntima, que Deus sempre atua, em todas as circunstâncias. Que nossas vidas, entregues em suas mãos estão sendo guiadas, mesmo que, eventualmente, não percebamos isso.
A Esperança do Advento alimenta o nosso chamado a servir. A nossa vida ministerial, nossa atuação como líderes do povo de Deus e, como cristãos, líderes nessa sociedade que vive em desesperança, descrendo de tudo, ou pior, crendo em tudo.
Somos atalaias da esperança nesse mundo desolado. Sua vida, seu ministério, seu papel, dado por Deus, é uma luz que se acende no meio das trevas vividas em todos os lugares. Lembre sempre que a menor das luzes vence a maior das trevas. Seu papel como testemunha da esperança e fundamental onde você estiver.
A Esperança do Advento alimenta, também, a nossa vida como Igreja, afinal de contas, o exemplo da promessa cumprida em Jesus nos fortalece para assim nos manter na direção que entendemos: Deus tem nos colocado.
O ano de 2012 foi bastante atípico. Vivemos um misto de tragédia, expectativas e concretização de promessas. A trágica morte de nosso querido Bispo Robinson e nossa mui amada irmã Miriam Cavalcanti, foi algo que nos colocou no chão, desconcertou a todos. Difícil entender os caminhos que Deus escreve. Sempre achei que Deus escreve certo por linhas certas, mas minha limitação nem sempre me ajuda nessa compreensão. O que Jesus disse sempre me consolará e me dará forças para seguir: “O que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois” (Joao 13.7).
A concretização de muitos de nossos desejos, sonhos, expectativas como Igreja-Diocese vieram exatamente nesse misto de tragédia e indefinições. 2012 ficará marcado como um ano em quem experimentamos a Soberania de Deus de uma forma tão concreta que dificilmente alguém poderá negar, mesmo que tente. A nossa tão desejada e intensamente buscada situação institucional foi alcançada de uma maneira que nenhum de nós poderia prever. Hoje a Diocese de Recife possui dois Bispos Sufragâneos, um Bispo Diocesano Eleito. Fomos reconhecidos pela maioria esmagadora da Comunhão Anglicana como Legítima Igreja Anglicana. Recebemos o Status de “Extra Provincial” sob a Supervisão de dois Arcebispos, e iremos concluir nosso ano com um Sínodo muito especial com a Sagração de um Bispo Diocesano e a presença oficial dos representantes do GAFCON, do Cone Sul, da CMS, de SOMA e da ACNA, nossos parceiros na missão.
Quem poderia imaginar que um ano tão tumultuado terminasse de maneira tão positiva para nossa Igreja-Diocese?
Nesse Tempo de Advento, olhe para tudo isso. Olhe para a História do Povo de Deus que somos nós, e seja alimentado por aquilo que Deus faz a despeito de nossas imensas limitações.
Que o início desse ano litúrgico e a recente experiência vivida por todos nós, nos lance, sem receios, para adiante, na certeza de que quando vivemos com Deus, vivemos sempre um Tempo de Esperança!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Bispo de Durham Justin Welby é indicado como 105º Arcebispo de Cantuária.

A declaração do Bispo de Durham Justin Welby quando soube da indicação foi a seguinte “ Eu Creio que ninguém pode estar mais surpreso do que eu como resultado desse processo.  Tem sido uma “experiência” ler a meu respeito mais do que eu mesmo sei. Ser indicado para Cantuária é ao mesmo tempo algo de grande pressão e surpreendente. A pressão vem pela posição daqueles a quem eu sigo e da responsabilidade que isso significa surpreendente porque é algo que eu nunca imaginei acontecer.”
Com Essas palavras o Bispo Welby explicou o seu sentimento para esse importante momento em sua vida, para a Igreja da Inglaterra e para toda a Comunhão Anglicana.
Não é novidade para ninguém a crise que a Comunhão Anglicana vive nos dias de hoje por conflitos morais e teológicos e pelo que envolve esses dois aspectos da Fé Cristã. Como Comunhão, somos hoje bastante fragmentados. O que eclodiu com a eleição e sagração de um Bispo homossexual praticante pela Igreja Episcopal dos Estados Unidos (TEC) foi uma crise causada por uma minoria liberal que, por ser detentora de poder político institucional levou a maioria teologicamente ortodoxa e “confessante” a sofrer pressões e fragmentações dentro das 38 províncias da Comunhão Anglicana.
O Período liderado pelo Arcebispo Rowan Williams foi um dos mais desastrosos para a unidade dessa Comunhão de quase 80 milhões de cristãos anglicanos. Aos poucos, a inércia nas decisões e posicionamentos foi dissolvendo os históricos e tradicionais instrumentos de unidade Comunhão.
A Conferência de Lambeth foi esvaziada pela maioria dos bispos ortodoxos e confessantes e o encontro passou a não discutir os temas mais importantes que envolvem a Comunhão nos últimos anos. O chamado processo “Indaba” que traz a idéia de diálogo e conversação, se tornou algo permanente e uma excelente forma de não tomar qualquer decisão. O processo continua e a Comunhão vai se fragmentando, por sua vez o Arcebispo não toma qualquer atitude e entrega seu posto deixando esse instrumento histórico de unidade em frangalhos.
A reunião dos Primazes, desde 2007 em Dar es Salaam, Tanzania, foi esvaziada e perdeu seu propósito e no ultimo encontro em Dublin, Irlanda apenas 23 das 38 províncias estavam representadas, os ausentes, protestaram contra a presença dos liberais norte americanos e canadenses mesmo alguns deles alegando outras razões. Desde então, decisões não são tomadas e o “indaba” continua se mostrando ineficaz e deteriorante.
O Conselho Consultivo Anglicano, perdeu o Status de ser o eixo da Comunhão, lugar de decisões e resoluções significativas. A suspensão dos delegados Canadenes e Norte Americanos parece nunca ter sido levada a sério, eles detém o poder financeiro, ao ponto de nesta ultima reunião que acaba de acontecer na Nova Zelandia a Bispa Primaz da TEC Jefferts Schori e seu marido ter sido convidada para um assento de destaque em uma grande cerimônia em Auckland junto das principais autoridades em detrimento de outros líderes cristãos e bispos e leigos membros do CCA.
Por fim esse período liderado por Rowan Williams foi marcado por um suicídio institucional da própria função do Arcebispo de Cantuária que ainda era um elo de unidade até George Carey. Hoje, pelo seu silêncio, passividade e até desmoralização pública promovida pela TEC, o Arcebispo de Cantuária não corresponde mais a nenhuma expectativa, ele conseguiu desfazer esse instrumento histórico de unidade.
Nesse contexto surge o GAFCON, a conferência que reúne em Jerusalém ( 2008) centenas de Bispos, clérigos(as) e leigos(as), se torna para muitos uma alternativa à Conferência de Lambeth, e produz a Declaração de Jerusalém da qual nós somos signatários, reafirmando os valores cristãos, as decisões e resoluções da Conferência de Lambeth 1998, especialmente a resolução sobre sexualidade humana 1.10 que reafirma o casamento como a união entre um homem e uma mulher e o sexo como sagrado e reservado para o casamento. O GAFCON gera a FCA ( Fraternidade dos Anglicanos Confessantes) que hoje se tornou o instrumento de Unidade das províncias anglicanas ortodoxas e que possui um Conselho de Primazes com 12  bispos e arcebispos.
Aqui nós entramos. A Diocese de Recife, em atitude histórica e irrevogável toma a decisão de deixar a IEAB pela impossibilidade de seus líderes clericais, leigos e de seu bispo diocesano de conviverem com o liberalismo teológico que se alinhava com os escândalos mundiais aqui citados. Sofremos muito com tudo isso, mas resistimos firmemente e depois de um longo deserto ou quem sabe de um mar de tormentas encontramos um Porto Seguro, sendo reconhecidos pelo GAFCON/FCA como uma Diocese Anglicana Extra Provincial. Nosso maior elo de unidade hoje, junto com mais da metade da Comunhão Anglicana chama-se GAFCON/FCA.
Surge uma luz no fim do túnel com a indicação do novo Arcebispo de Cantuária? Claro que nós nunca desistiremos da Comunhão Anglicana, nunca deixaremos de orar pela sua reestruturação, pelo redirecionamento de suas posições e pelo fim do infindável processo de “indaba” se transformando em atitudes práticas que possam colocar a Comunhão nos seus eixos históricos novamente.
O Bispo John Welby é conhecido comom um líder evangelical, conservador, defensor da declaração da Camara dos Bispos da Igreja da Inglaterra que defende a resolução de Lambeth 1.10 de 1998 e o casamento nos moldes da tradição judaico cristã.1 além de outyros posicionamen tos teológicos e éticos históricos. Foi membro e líder leigo na Igreja Holy Trinity Brompton, a principal igreja evangélica/carismática anglicana hoje na Inglaterra. Convertido a Cristo e que deixou o cargo de executivo da maior empresa britânica de petróleo para seguir o ministério pastoral. Esses fatos e outros mais sobre a sua personalidade, visão e ministério nos anima sim a ter expectativas quanto ao futuro da Comunhão Anglicana.
No entanto, creio que a nossa atitude hoje, depois de vivermos tudo que vivemos, é de cautela, oração e manutenção de nosso foco em nossa relação com as nossas igrejas parceiras do GAFCON/FCA, esse continua sendo o nosso maior instrumento de unidade, são essas igrejas que estão nos apoiando, nos dando supervisão pastoral, estratégica, “comprando” a nossa causa.
Fico muito feliz com a indicação do Bispo Welby, nutro esperanças de um futuro melhor para a Comunhão (nunca deixei de nutrir), mas meu foco está em levar a Diocese de Recife a viver seu momento de PAZ tão desejado e buscado, e que hoje conseguimos alcançar. Somos uma Diocese Anglicana, Evangélica/Carismática, Missionária, em comunhão com a maior parte da Igreja Anglicana no globo, respeitada nacional e internacionalmente, vivendo a plenitude de sua ação missionária e experimentando um novo momento que como disse, tanto desejamos e que dele devemos desfrutar em plenitude.
Ter alguém com o perfil do Bispo Welby na Sé de Cantuária significa para nós e para a Comunhão um grande avanço diante de tudo que essa Comunhão tem vivido. Mas nós, continuamos marchando em frente e de joelhos intercedendo pela mão de Deus sobre essa Igreja, a quem tanto amamos, e sobre a difícil tarefa que o Bispo Welby tem pela frente.
 
Miguel Uchoa