Blog do Reinaldo Azevedo
Revista Veja
Amplos setores da imprensa tentaram cassar dos evangélicos o direito de dizer "não" Agrediram os fatos, a democracia e os seus leitores.
A
grande imprensa brasileira, com as exceções costumeiras, escreveu um capítulo
vergonhoso de sua história na quarta-feira. Cerca de 70 mil pessoas — segundo
estimativas da Polícia Militar do Distrito Federal (nesta sexta, publicarei um
vídeo; aguardem um pouco) — participaram de uma manifestação em Brasília em
defesa da liberdade de expressão, da liberdade religiosa, da família
tradicional e da vida (leia-se: contra o aborto). Num dia útil, certamente
arcando com o custo de faltar ao trabalho — ninguém ali tinha o “ponto” abonado
nem estava sendo pago por partido —, milhares de pessoas atenderam à convocação
de diversas denominações cristãs para expressar o seu ponto de vista sobre
temas que estão em debate na sociedade e que são do interesse dos brasileiros.
Não obstante, aquelas 70 mil pessoas foram praticamente ignoradas pelo
jornalismo. A IRONIA: UMA DAS PALAVRAS DE ORDEM DA CONCENTRAÇÃO ERA ESTA:
CONTRA O CONTROLE DA MÍDIA.
Reproduzo palavras do pastor Silas Malafaia, um dos organizadores
do evento:
“Senhores da imprensa, nós, que
somos chamados de fundamentalistas, queremos uma imprensa livre até para falar
mal de nós. Nós não queremos cercear imprensa, não. Agora, eu fico vendo esses
esquerdopatas, que querem o controle da mídia para controlar o conteúdo… Eles
estão pensando que o Brasil é Nicarágua, Venezuela, Bolívia, Equador e
Argentina. Aqui, não! Imprensa livre, sempre livre!”
Não saiu praticamente uma linha do que disse Malafaia sobre o
assunto. Também se omitiram as críticas muito duras que ele fez aos mensaleiros
(voltarei a tratar do assunto em outro post). Setenta mil pessoas pediram em
coro cadeia para a quadrilha — enquanto Luís Roberto Barroso, na CCJ do Senado,
dizia que o STF foi muito duro com aqueles patriotas. E também isso se omitiu.
Publicarei, reitero, um vídeo com trechos da fala de Malafaia (a integra de sua
intervenção estáaqui).
Houve coisa pior do que omissão: uma reportagem do Estadão Online
atribuiu ao pastor o que ele não disse, a saber: que união homoafetiva é crime.
Não falou isso. Afirmou outra coisa: que não aceitava que sua opinião, que é
contrária, fosse criminalizada, como faz o PLC 122.
Não há por que omitir os fatos. É evidente que uma concentração
que tinha na sua pauta, também, a defesa da família tradicional (homem, mulher
e sua prole) opõe-se ao casamento e ao ativismo gays. E isso foi dito lá de
maneira clara e inequívoca. Era um aspecto importante do protesto, mas era um
deles. Não é menos evidente que a esmagadora maioria da imprensa considera essa
opinião “conservadora”, “reacionária”, “atrasada” — escolham aí o adjetivo. O
mesmo se diga sobre o aborto, duramente atacado no evento. Eis outro item da
pauta dita “progressista” — nunca ninguém conseguiu me explicar por que o mundo
e a moral progridem com a morte de fetos…
A imprensa — ou “as imprensas” — tenha a agenda que quiser! Como
afirmou o pastor, que ela seja livre até para falar mal das opiniões e das
pessoas da praça. Mas omitir??? Fazer de conta, como se fez, que a coisa não
estava acontecendo??? Tratar a concentração como se estivesse um curso um
evento corriqueiro, sem importância? Só não acho que ficou caracterizada a
“censura” porque considero que a palavra cabe quando a interdição é aplicada
pelo Estado. Mas se trata, sim, de um ânimo censor, que agride a essência do
jornalismo.
Estaremos, agora, diante de um novo paradigma, que consistirá em
esconder aquilo de que se discorda? Qual é a medida? Se 500 marcham nas ruas em
defesa da maconha, a foto vai parar nas primeiras páginas — afinal, é a “pauta
progressista”. Se 70 mil fazem um coro contra a descriminação das drogas — e
isso também ocorreu —, faz-se de conta que nada aconteceu?
Pois é… Volta e meia, José Dirceu, o chefe de quadrilha do
mensalão — até, ao menos, que eventuais e ilegais embargos infringentes não
livrem a sua cara —, manda alguém escrever lá no seu blog um ataque qualquer à
imprensa, pedindo o “controle da mídia”. Por incrível que pareça, a mídia que
ele quer controlar se encarrega de reproduzir suas cretinices. Afinal, disse-me
outro dia alguém, a imprensa tem de fazer isso para demonstrar que é isenta e
não tem preconceitos…
Ah, bom! Agora entendi! Para mostrar que é isenta e não tem
preconceitos, até os ataques de Dirceu à liberdade de expressão são… livremente
expressos! Mas os 70 mil da praça, que falaram EM DEFESA da liberdade de
expressão, ah, esses foram tratados com menoscabo ou com desrespeito mesmo:
“Afinal, não pensam o que pensamos; têm uma pauta reacionária…”.
O que pretende para si mesma a imprensa que age desse modo?
Digam-me cá: os 70 mil que foram para a praça, numa quarta-feira gorda, tinham
sido convocados por quem? Pelos jornais, TVs e sites noticiosos já
tradicionais? Acho que não! As igrejas evangélicas têm seus próprios sistemas
de comunicação e não dependem da boa vontade de estranhos para existir. Tratou-se
de uma omissão vergonhosa, constrangedora. E, claro, havia jornalistas em penca
lá.
Essência da democracia
A essência da democracia é o dissenso.
O papel da imprensa não é exercer uma censura informal sobre a diversidade de
opiniões. Ao contrário. Converter o espaço noticioso em área de militância é um
comportamento fascistoide, que agride o fundamento da pluralidade e da
liberdade.
Faltassem-nos exemplos, deveríamos olhar para o governo de Barack
Obama, nos EUA. Em nome das liberdades civis que estariam ameaçadas no governo
Bush; em nome da pluralidade, que estaria sendo agredida pelos supostos
fundamentalistas de Bush; em nome da, santo Deus!, da diversidade, à qual os
republicanos de Bush seriam hostis, ONGs, movimentos sociais, imprensa,
academia, intelectuais etc. se juntaram num grande coro de adoração ao
candidato e depois presidente da República e à sua agenda progressista.
Quis o destino — que, para mim, sempre foi a lógica dos fatos —
que aquele grande progressista liderasse o governo que montou o mais amplo,
profundo e nefasto sistema de espionagem no país, que inclui a perseguição a
adversários por organismos do estado e a invasão do sigilo de jornalistas.
A liberdade é e será sempre o direito de divergir. Infelizmente,
amplos setores da imprensa tentaram cassar dos evangélicos esse direito. Para
estes, a agressão foi irrelevante porque, reitero, não dependem dessa
visibilidade para existir. Para o jornalismo, no entanto, a coisa é séria: há o
risco de que o paradigma da pluralidade esteja se perdendo. Os cristãos, sempre
que julgarem necessário, voltarão às praças. Espero que essa imprensa de agenda
tenha como voltar a seus leitores.
Um comentário:
Pastor, leia menos a Veja. Se quiser entender melhor o pais leia a revista Carta Capital.
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