Entrega Consumada
Lc 23:33-49;Hb 4:14-16, 5:7-9
A Cruz é a única escada suficientemente alta para alcançar a soleira dos céus
George D. Boardman
Chegamos a 6a feira, o dia em que a terra vai chorar a morte de seu salvador. Jesus está naquela sala, conhecida como cenáculo ou “aposento alto” . quem visita Jerusalém pode conhecer o local que se atribui ter dado lugar a essa ultima ceia de Jesus com seus discípulos. Mesmo não se podendo ter a certeza de que aquele é de fato o lugar exato, pode-se ver o lugar elevado, um salão amplo e um ambiente que lembra a descrição bíblica. O local é menos importante em toda a história que estamos acompanhando, especialmente nessa última semana. O mais importante é ter a exata noção do que eles estavam fazendo ali reunidos, eles, mesmo sem saber, estavam presenciando as ultimas instruções de Jesus enquanto vivo nessa dimensão limitada que nosso corpo e espírito ainda nos impõe.
Ontem fizemos a leitura pelo evangelho de João, se seguíssemos aquele texto iríamos ver que Jesus deixa o salão e segue na direção do vale de Cidrom a caminho do Monte das Oliveiras. No caminho provavelmente encontrou uvas plantadas e aproveita para ensinar sobre a relação que devemos manter com a videira verdadeira que é ele e com o agricultor que é Deus. Nessa lição ele mostra a necessidade de estarmos ligados pela sua Palavra. (Jo 15) . Na sequencia ele gasta tempo em oração no getsemani e ali mesmo é preso, entregue por Judas em traição que mais tarde lhe custaria uma crise de consciência que lhe fez atentar contra a própria vida.
A leitura de hoje já nos lança ao local da cena que o mundo não queria ver, mas teve que presenciar, a morte do filho de Deus. Mas como sabemos, todos os episódios do evangelho nos mostram lições. A morte de Cristo, a despeito de toda dor que ele viveu, nos ensina muito e em diferentes áreas de nossas vidas.
Jesus foi crucificado com criminosos. Isso seria algo detestável para qualquer judeu, morrer crucificado. Esse estilo de pena máxima era algo romano e praticado cruelmente por essa nação opressora. O justo e prefeito filho de Deus se faz o mais reles dos seres humanos e com eles compartilha seus últimos momentos de vida. A maioria de seus seguidores havia fugido, e ele está só ali, na cruz. Mesmo diante de tudo que vive, em momento algum Jesus buscou usar de sua autoridade, mas se submeteu a sua missão, esse era o seu foco.
Aprendo que manter o foco na missão que Deus me concede é a minha tarefa. Mesmo diante das dificuldades, o que recebi de Deus devo cumprir. E isso me faz questionar como tenho levado a cabo, se tenho, a missão que entendo Deus tem me dado. Saiba que não há um simples ser humano neste globo para quem Deus não
tenha um propósito. A diferença está em saber ou não saber esse propósito. Quem sabe e busca cumprir, encontra a felicidade, quem não sabe, viverá sempre no déficit de propósito na vida e, aquela história do lugar no coração que somente é preenchido por Jesus, saiba é aqui que se torna verdade
Jesus é humilhado. Escarnecem dele, fazem chacotas, desafiam seu poder , mas de seus lábios saem apenas as conhecidas palavras “ pai perdoa-lhes eles não sabem o que fazem...” enquanto Jesus estava ali sofrendo por mim e por você, enquanto ele fazia um esforço hercúleo para tentar arrancar um pouco de ar através de seus pulmões imprensados pelas costelas crucificadas que os pressionava, enquanto ele sofria o pecado de toda a humanidade e daquela cruz brindava o mundo com seu sacrifício, enquanto essa cena imersa em uma profundidade espiritual que não se consegue descrever, havia ali, bem embaixo dele, um grupo de soldados romanos preocupados com quem ia ficar com suas vestes e assim jogavam sorte sobre elas. Aprendo que a força do perdão nunca estará em minha capacidade de agir nessa direção, mas sim em minha compreensão de que nesse momento, Jesus estava vencendo o mal do ódio e a tentação de revidar por mim. Nada poderia ser mais tentador para ele do que acabar com tudo aquilo em um piscar de olhos, assim ele poderia, mas assim ele não fez. E, porque não fez? Saiba, porque eu e você não poderíamos fazer aquilo e ele ali representava cada um de nós. Jesus viveu o que eu e você viveríamos e por isso sua morte é expiatória. Perdoar não e um ato condicional, Jesus perdoou seus algozes sem que eles sequer tenham pensado em solicitar qualquer perdão. Alguns poderão dizer: “ mas eu não sou Jesus” de fato não é, mas deveria procurar, como seu discípulo se parecer ao máximo com ele.
Sua morte trouxe liberdade. Quando Jesus morre e naquele momento que entrega seu espírito, diz o texto, o véu do templo se rasgou. O véu era o que separava o santo lugar do lugar santíssimo. Naquele lugar santíssimo somente o sumo sacerdote podia entrar para representar o povo e expiar os pecados com os sacrifícios uma vez por ano, no período da Páscoa. Agora o véu não existia mais e o acesso estava liberado. Qualquer um de nós em uma simples frase, em um simples desejo, sem formalidades de qualquer tipo pode hoje falar com Deus e ter o prazer de desfrutar de sua presença.
Aprendo que o meu relacionamento com deus se dá hoje exclusivamente por Jesus Cristo, ele se fez sumo sacerdote e em seu nome eu ganho esse privilégio de poder estar na presença de Deus. Os ritos tem a sua validade quando honestamente facilitam o acesso a Deus, mas de nada valem quando se tornam uma prática religiosa e um fim em si mesmos. Você não precisa de rezas, mantras ou de sessões especiais para desfrutar da presença de Deus, apenas chame pelo seu nome e em nome de Jesus o procure no íntimo de seu coração .
Hoje, 6a feira da paixão, o dia em que o seu Senhor foi assim morto e na sua morte nos ensinou a lidar coma vida. Viva esse dia onde quer que você esteja na dimensão mais profunda de seu sentido.
Minha Oração
Senhor Jesus. Hoje ́um dia que eu poderia chamar de triste, mas como triste apesar de toda tristeza do que fizera contigo? Como triste se nesse dia tu me ensinas lidar com meus maiores dramas. Meu coração está contrito, mas meu espírito não deixa de regozijar. Hoje eu morro contigo para viver para sempre.