quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O Ser Evangélico

     Li por estes dias uma excelente entrevista feita a Paul Freston sobre o ser evangélico, realmente gostei, bastante edificante e esclarecedora. Precisamos saber e definir bem este termo. Sou parte de uma associação mundial em minha denominação cristã chamada “Aliança dos Evangélicos na Comunhão Anglicana”. Mas o que a palavra “Evangélico” realmente significa! Parece que temos observado o advento de mais um rótulo. Ser evangélico hoje pode significar estar ligado a uma denominação de origem protestante, pode significar um antagonismo ao ser católico e às vezes escuto o termo ser usado se referindo a um tipo de casta, elite espiritual ou coisa parecida. Lembro-me de um anuncio de rádio que dizia: “Prove que é evangélico e ganhe 10% de descontos...”
     Minha pergunta é: Como poderia eu, provar que sou evangélico! Esta pergunta seria respondida por alguns com a apresentação de uma carteira de igreja, mas isso ainda não é ser evangélico, existem muitas pessoas que estão associadas a uma denominação evangélica e nem por isso apresentam as características do evangelho. Outro responderia mostrando a igreja que frequenta, se a frequência à igreja nos torna-se evangélicos, me tornaria um chinês ao frequentar assiduamente um restaurante chinês. Não, nem frequência, nem membresia, podem atestar o ser evangélico.
    O professor Davison Hunter, da Universidade de Virgínia EUA, disse que os evangélicos segundo o mundo acadêmico seriam os “lunáticos religiosos” “Zelotes de direita”, “fanáticos”, “demagogos”, “anti-intelectuais e simplistas”, sua mensagem seria considerada “maliciosa”, “cinica”, “bitolada”, “separatista”, “irracional”.  O que tem este  cristianismo evangélico para levantar tamanha popularidade e repulsa!
  O ser evangélico é a única maneira de ser cristão!! Não me julguem por esta afirmação, não me refiro as carteirinhas ou aos rolls de membros das igrejas, mas sim a um certo “DNA” que cada cristão deve ter,  ligado e fundamentado nas Escrituras, encravado na história e que nestes últimos 2.000 anos tem sido agente de transformação na sociedade.
   A fé evangélica não é uma inovação recente, dizia O Rev. John Stott em sua excelente obra “A verdade evangélica” (título original) diz: “...nos atrevemos a dizer que o cristianismo evangélico é o cristianismo original apostólico, o cristianismo do Novo Testamento”. Lutero afirmou: “não ensinamos nada de novo, mas repetimos e estabelecemos coisas antigas, que os apóstolos e todos os mestres piedosos ja ensinavam antes de nós”. Wesley, avivalista do séc XVIII na Inglaterra era acusado de introduzir novas doutrinas, ao que sempre respondia “o que ensino é o bom e velho cristianismo...”    
   Ensinando o velho ensino, o ser evangélico faz novas todas as coisas e prega a verdade bíblica como libertação de todos os males (Jo 8:32). O ser evangélico, fiél ao evangelho se insurge contra todas as formas de opressão. Foram os evangélicos que marcaram a história da Europa com lutas históricas. O sociólogo J. Brady escreveu o clássico “A Inglaterra antes e depois de Wesley” fazendo menção ao impacto social do avivamento evangélico liderado pelo ministro Anglicano. William Wilberforce , líder evangélico, lutou por décadas pela abolição do tráfico de escravos na Inglaterra e em suas colônias, conseguindo-a em 1883, sua argumentação era bíblica e solidamente evangélica. Confrontava a nação com a mais pura doutrina evangélica.
  Uma grande injustiça e que se comete com frequência, é comparar pejorativamente o ser evangélico com uma postura fundamentalista. O ser evangélico na sua essência é fundamentalista sim! A origem deste termo esta ligada a muito respeito e seriedade. Se refere a publicação de 12 livretos sobre os fundamentos do evangelho, estes livretos circularam entre 1909 e 1915 e tratavam de temas como salvação, justificação etc. O termo fundamentalista estava ligado a qualquer pessoa que acreditava nas verdades centrais da fé cristã, os fundamentos. Portanto em sua origem o termo fundamentalista era aceitável como sinonimo de evangélico.  Lamentavelmente hoje as coisas mudaram e o fundamentalismo está associado aos grupos que se isolam e que rejeitam as ciências, que entendem a Bíblia numa perspectiva apenas literal, que confundem doutrina bíblica com usos e costumes, que demonizam a cultura e errando, assumem valores de outras culturas como santas e divinas, especialmente a cultura do colonizador espiritual ou implantadores das missões.
  O ser evangélico supera tudo isso e se assume como a essência do evangelho, não entendendo essência, como a mais pura, porém como as coisas essenciais, mais relevantes,  inegociáveis que o evangelho nos apresenta. O mundo cristão hoje vive uma verdadeira “Babel evangélica”, a cada dia surgem novas igrejas, novos grupos, novas agremiações eclesiásticas, todas sob a mesma bandeira Evangélica. Mas seriam  mesmo !
  Minha preocupação continua! como poderia provar que sou evangélico! Eu tentaria a seguinte resposta: Sou evangélico porque creio na velha mensagem do evangelho de Jesus Cristo, Sou evangélico porque entendo a mensagem do evangelho como libertadora e não opressora, como meio de graça e transformação das estruturas malignas da sociedade, sou evangélico por que creio nos fundamentos da fé cristã como necessários e vitais para minha existência.
   Com carteirinha ou sem ela, arrolado ou não em uma membresia, protestante ou não... o ser evangélico não se permite rotular, mas se afirma em sua essência, a essência do evangelho. Tenho aprendido que muitas vezes vamos além da essência, esquecemos nossas  raízes históricas, deturpamos  os fundamentos...
          Quando assim fazemos, deixamos de lado o Ser Evangélico

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Conselho de Pastores se manifesta contra a realização do PE FOLIA. O que Recife vomitou, Jaboatão Abraça!

Documento entregue e lido na presença do Prefeito de Jaboatão dops Guararapes Elias Gomes na reunião do conselho de pastores desta cidade

O Brasil é uma República Federativa Constitucional, isso significa que existe uma Lei maior que deve ser assegurada pelo poder público em qualquer circunstância. O que está acontecendo aqui em Jaboatão dos Guararapes com a iniciativa da Prefeitura da Cidade de promover um carnaval fora de época na orla de piedade envolvendo as duas principais avenidas desta região, viola esta Lei maior e obriga os cidadãos a viverem momentos de constrangimento de seus direitos mais fundamentais.Na área selecionada para a festa existem residências que serão tolhidas de seu direito de ir e vir além de estabelecimentos comerciais e, igrejas. Todos serão cerceados deste direito garantido pela constituição federal. Nem todos os estabelecimentos tem interesse nesta festa, como afirmam seus organizadores.
O depoimento do secretário de turismo Ivan Lima filho e do Prefeito do município Elias Gomes tratam de afirmações que diminuem a cidadania de Jaboatão.
“O PE Folia nasce para inserir a cidade no bom momento que vive Pernambuco. Vai-se construir identidade e cidadania em Jaboatão”, avalia o secretário de Turismo e Eventos do município, Ivan Lima Filho. O prefeito Elias Gomes vai além. “Será o resgate da autoestima e dos valores do jaboatonense, disse.” JC 05.08.2011

Qual o conceito que o Secretário Ivan Lima e o Prefeito Elias Gomes fazem de Cidadania e auto estima?  Nos permitam um esclarecimento :
Segundo o dicionário Michaelis da língua portuguesa
Cidadania – Qualidade de cidadão
Cidadão – Indivíduo no gozo e direitos civis de um Estado
Segundo a Wikipedia:
Auto estima - Em psicologia, autoestima inclui a avaliação subjetiva que uma pessoa faz de si mesma como sendo intrinsecamente positiva ou negativa em algum grau (Sedikides & Gregg, 2003).
Identidade - Para a Sociologia, Identidade é o compartilhar de várias idéias e ideais de um determinado grupo.
Para o Direito, a Identidade constitui-se num conjunto de caracteres que, delimitados legalmente, tornam a pessoa ou um bem individuado e particularizado, diferenciando-o dos demais, e como tal sujeito a direitos e/ou deveres
Para a Antropologia, Identidade consiste na soma nunca concluída de um aglomerado de signos, referências e influências que definem o entendimento relacional de determinada entidade... Portanto, Identidade está sempre relacionada a idéia de alteridade, ou seja, é necessário existir o outro e seus caracteres para definir por comparação e diferença com os caracteres pelos quais me identifico
Nossa identidade, e muito menos nossa auto estima não estão vinculados a esta festa e a todos os inconiventes que ela trará para a região. Nossa identidade deve estar vinculada a uma cidade bem administrada, ordeira, com serviços disponíveis e direito garantido para todos. Nossa auto estima como cidadãos virá quando houver orgulho em nós ao mencionarmos que em Jaboatão se vive em paz, com  os serviços disponíveis e onde o respeito à Lei é garantido.
Os organizadores chegaram a afirmar em matéria ao JC , não encontrada por nós no momento que “os incomodados que se mudem, que façam como se faz em Olinda se retirando da cidade ou alugando suas casas”. Afirmaram ainda que mais da metade , cerca de 67% da população apoia a festa. Mas o que isso significa? Que os demais 33% terão seus direitos cerceados pela maioria? Nos termos da lei isso não se aplica em nenhuma circunstância. Direito é direito.
No corredor da festa existem 5 igrejas cristãs com celebrações regulares no sábado e no domingo . As mesmas estarão impedidas de realizar essas celebrações pelos transtornos que a festa causará e pelo cerceamento do direito de ir e vir além do direito de culto garantido pela constituição federal. Atentem para a Carta Magna Conforme o ART. 5º da Constituição Federal Brasileira de 1988, os direitos individuais.
Art. 5º, XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
Art.5º, VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias;
Nós do Conselho de pastores de Jaboatão dos Guararapes nos juntamos à parcela indignada da população pela maneira arbitrária e ilegal que esta festa está sendo anunciada e pretende ser realizada. Representamos milhares de pessoas de diferentes denominações cristãos e nos associamos aos católicos desta região que terão da mesma forma seus direitos cerceados.
Temos um compromisso de sermos parceiros do poder público nas ações que beneficiem a população em geral, mas temos o compromisso  com Deus, com nosso povo e com nossas consciências de manter a integridade ética, moral e cidadã.
         
            Conselho de Pastores de Jaboatão dos Guararapes
                            03 de Setembro de 2011